Ciência, Tecnologia e Inovação
Projeto do Departamento de Engenharia de Transporte da Universidade Federal do Ceará (UFC) vai monitorar os principais fatores de risco para mortes e lesões no trânsito das capitais nordestinas Recife e Salvador.
O objetivo é avaliar o desempenho das ações que serão desenvolvidas pelo poder público em parceria com a Bloomberg Initiative for Global Road Safety (BIGRS) para reduzir a violência no trânsito dessas cidades. O projeto tem suporte administrativo da Fundação ASTEF, fundação de apoio credenciada junto à UFC.
O projeto já foi desenvolvido em Fortaleza, de 2015 a 2019. A Capital do Ceará reduziu a taxa de mortes por 100 mil habitantes no trânsito de 14,9, em 2010, para 7,4, em 2019. Os dados são do Relatório Anual de Segurança Viária 2019.
Com isso, Fortaleza se tornou uma das primeiras cidades no mundo a alcançar a meta da Organização das Nações Unidas (ONU) de reduzir pela metade a taxa de mortes no trânsito.
O monitoramento será feito por uma equipe de 50 pesquisadores da Universidade que vão avaliar, por meio de observação direta nas vias das duas cidades, fatores de risco como: uso de cinto de segurança, capacete e cadeirinha para crianças, de modo adequados; além de excesso de velocidade e direção sob influência de álcool. A primeira fase do estudo está prevista para acontecer até o fim deste ano. As demais observações de campo devem acontecer pelo menos duas vezes ao ano, até 2021.
“A premissa é de ‘visão zero’, ou seja, de que nenhuma morte ou vítima severamente ferida são aceitáveis no trânsito. As políticas públicas devem visar chegar a esse número”, explica o professor doutor Flávio Cunto, do departamento de Engenharia de Transporte da UFC e coordenador do projeto de monitoramento das ações. Ainda segundo ele, o estudo vai permitir avaliar o avanço dos indicadores e se eles estão associados às intervenções do poder público nas cidades.
Ações monitoradas em Fortaleza
Entre as medidas para a promoção da segurança viária, continua o professor Flávio, é preciso verificar se existe um banco de dados confiável e estruturado com dados sobre tráfego e vítimas lesionadas no trânsito. “As motos (em Fortaleza) tinham um percentual maior de circulação acima da velocidade em comparação ao demais veículos. Com essa informação, os técnicos puderam direcionar as ações”, exemplifica.
Outro ponto forte é ter entre os quadros municipais técnicos qualificados para desenvolver mudanças necessárias, treinar equipes, etc. Campanhas de educação sobre medidas de prevenção de acidentes no trânsito e ações de desenho urbano seguro também desempenham papel fundamental, complementa Flávio Cunto.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), os limites de velocidade em áreas urbanizadas não deveriam ser superiores a 50km/h. Nesse sentido, explica o professor, ações como redução da velocidade em algumas vias (como avenida presidente Castelo Branco, conhecida como Leste-Oeste) e intervenções de engenharia como ciclofaixas, travessias elevadas e espaço compartilhado de carros e pedestres ajudaram a melhorar os índices de mortes e vítimas severamente lesionadas em Fortaleza.
Como acontecem as observações
As observações de campo vão ocorrer em 16 pontos sorteados que apresentam boa representatividade do tráfego de cada cidade. Os pesquisadores vão aos locais e observam o comportamento dos motoristas, sem contato direto nem aplicação de multas em caso de irregularidades.
Com isso, é possível observar a situação dos fatores de risco, como, por exemplo, o perfil de quem estava usando o cinto ou o capacete (e se ele está afivelado). Radares portáteis são utilizados para detectar a velocidade dos veículos. Os pesquisadores se juntam a equipes de fiscalização de trânsito somente na avaliação da direção sob influência do álcool. Na ocasião, será monitorado o percentual de uso e a recusa em realizar exame de alcoolemia entre os motoristas parados nas blitze da Lei Seca.
O projeto deve ser desenvolvido por uma equipe formada por dois professores doutores da UFC – Flávio Cunto e Manoel Mendonça –, um aluno de doutorado – Caio Torres -, dois coordenadores locais e 25 pesquisadores em cada cidade.