De onde vem o ESG? (Environment, Social and Governance)
O mundo está em turbulência e vem passando por grandes transformações. Até o começo dos anos 1990, havia uma “guerra” entre os regimes capitalistas e socialistas, capitaneados por Estados Unidos e União Soviética. Com a queda desta, o capitalismo triunfou, aparentemente.
Neste mesmo período, houve um recrudescimento da política neoliberal capitalista, iniciada por Reagan e Thatcher, de valorização do mercado, sendo seguida por várias nações.
Ao mesmo tempo, iniciou-se um processo de aumento da desigualdade social na sociedade, principalmente nos países em desenvolvimento. Simultaneamente, aumentou o grau de escolaridade e de o nível de informação da população.
Com isso, aumentou a insatisfação da sociedade com o capitalismo, pois observava-se o aumento da riqueza de poucos em detrimento da baixa expectativa de crescimento dos demais, principalmente da juventude.
Com isso, nos anos 2010 houve várias manifestações em diferentes países (Estados Unidos – Tea Party; França – Coletes amarelos) e no Brasil (Black Bloc), tanto pelas questões políticas, que não estavam mais atendendo aos anseios da população, quanto pelas questões econômicas, que estavam levando a uma alta concentração de renda dos mais ricos.
Com isso, o capitalismo precisa se reinventar, mudando sua visão de um capitalismo de shareholders (foco no acionista) para um capitalismo de stakeholders (foco nos intervenientes), de forma a distribuir os resultados das empresas não apenas para os acionistas, mas para toda as partes interessadas.
Dentro deste caldeirão, surgiu o ESG (Environment, Social and Governance) para as empresas iniciarem este processo de mudança de rumo em que as questões ambientais (mudanças climáticas, poluição, desflorestamento), de responsabilidades sociais (condições de trabalho, racismo, relação com colaboradores) e de governança (combate à corrupção, valorização da diversidade) deverão ser implantadas para que sejam reconhecidas como empresas responsáveis perante à sociedade.
Contudo, este não é um processo simples porque parte da necessidade de uma mudança cultural dos dirigentes das empresas e do reconhecimento da constante continuidade deste processo. Porém, este é um caminho sem volta para a sobrevivência das empresas, num mundo cada vez interconectado, diverso e injusto.
José de Paula Barros Neto, professor titular da UFC
Este artigo foi publicado na versão impressa do jornal O Povo de 12 de agosto de 2021, página 19.
Sem financiamento não há ciência
Artigo de José de Paula Barros Neto, professor titular da UFC e presidente da Fundação ASTEF, publicado no jornal O Povo de 5 de fevereiro de 2021.
A chegada de doses da vacina contra a Covid-19 nos fez lembrar que essa esperança não seria possível sem ciência, pesquisa e inovação. Os entraves ao acesso universal à vacina, como a dependência de insumos internacionais, mostram a relevância de termos centros nacionais para desenvolver essa tecnologia.
Entre as pautas que o Congresso vai enfrentar, no início do ano legislativo, uma não pode passar despercebida e está ligada ao projeto de país que queremos. Deputados e senadores precisam derrubar os vetos presidenciais ao Projeto de Lei Complementar 135.
A grande vitória da aprovação do projeto de lei é impedir o contingenciamento de recursos do FNDCT (Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), o principal fundo de fomento da ciência e inovação do País. O FNDCT está para a ciência como o Fundeb está para a educação. No entanto, grande parte dos recursos é contingenciada pela equipe econômica do governo. Contudo, há pelo menos duas questões que precisam da atenção dos congressistas.
O primeiro veto atinge a permissão de se repassar para o ano vindouro os recursos retidos no ano anterior. Já o segundo item retirado pelo presidente proíbe o contingenciamento de recursos futuros do FNDCT. Ora, sem este item na lei, o projeto perde sua essência, que é garantir recursos para a ciência brasileira, que atravessa uma grave crise de financiamento.
Caso o Fundo mantenha seu valor integral, pelo menos R$ 2 bilhões ao ano podem ser liberados para as universidades brasileiras, responsáveis por 95% da produção da ciência e tecnologia do País. O cálculo é do Conselho Nacional das Fundações de Apoio às Instituições de Ensino Superior e de Pesquisa Científica e Tecnológica (Confies).
A crise do vírus nos mostra que estamos atrasados em relação a outros países em termos de valorização da ciência, tecnologia e inovação. Deputados e senadores da bancada cearense precisam estar atentos à derrubada dos vetos, pois só há possibilidade de desenvolvimento, soberania e justiça social para o Brasil com uma ciência forte, valorizada e com garantia continuada de recursos.
José de Paula Barros Neto, professor titular da UFC e presidente da Fundação ASTEF
Um futuro de excelência, que tal?
Este artigo foi originalmente publicado no jornal O Povo de 21/12/2018
Que tal termos uma rede de instituições de ensino superior, pública e privada, e de escolas profissionalizantes integradas e alinhadas para resolver os problemas da sociedade e a formar cidadãos para a era do conhecimento?
Que tal termos uma visão preventiva de saúde, em que os cidadãos apresentem um bom estado geral a partir da valorização do esporte e da boa alimentação, usando para isso espaços públicos como escolas, centros comunitários, parques, praças etc.
Que tal termos uma integração digital total dos municípios cearenses com todas as regiões do mundo a partir da integração entre o Cinturão Digital e os cabos submarinos que chegam a Fortaleza? E uma matriz energética baseada em energias alternativas oriundas de várias fontes (sol, vento, maré, ondas) distribuídas igualitariamente para todas as cidades do Ceará?
Que tal termos a garantia de água potável e esgotamento sanitário para todos os cidadãos cearenses a partir do uso de inovações tecnológicas e gestão eficiente dos recursos? E um estado integrado por terra, mar e ar, tornando-se um grande hub logístico que interligue o Brasil com o restante do mundo?
Que tal sermos um estado com uma forte cultura de paz, em que a tolerância seja o mote e o diálogo o caminho? E ao mesmo tempo sermos um estado com uma riqueza bem distribuída, tanto social quanto espacialmente?
Tudo isso é possível a partir do que está se pensando em construir para o Ceará até 2050. Um Estado com excelência em qualidade de vida e bem estar para os cearenses considerando os aspectos econômicos, sociais, ambientais e territoriais, tendo como base o aumento da produtividade, a inovação em todos os seus aspectos, a formação de instituições fortes e duradouras e, principalmente, a criação de uma governança compartilhada entre o governo, a iniciativa privada, a academia e a sociedade civil.
Temos uma oportunidade única a partir do que vem sendo discutido e construído na Plataforma Ceará 2050. Planejar um território a longo prazo, como o Ceará está fazendo, é sem dúvida o caminho para atingirmos um futuro que parece tão utópico. Se engaje! Participe! Acompanhe! O futuro é hoje.
Barros Neto
barrosneto@gmail.com
Coordenador Geral da Plataforma Ceará 2050
O papel da UFC no Ceará 2050
Este artigo foi originalmente publicado no jornal O Povo de 25/11/2017
A Universidade Federal do Ceará (UFC), com o apoio da Fundação Astef, com muita honra, recebeu o convite do Governo do Estado para conduzir, em sua instância técnica, a elaboração do Ceará 2050. Essa atitude potencializa uma prática de governança nova, que envolve as universidades na árdua tarefa de gerir territórios de alta complexidade, promovendo desenvolvimento.
Pensar o Ceará para o horizonte 2050 demonstra a intenção de estabelecer bases mais confiáveis para uma reflexão sobre o nosso futuro e, ao mesmo tempo, a produção de algo que venha a fazer parte do ideário de cada cearense. O nosso Estado está a demandar um norte mais rigoroso para o seu crescimento. Algo construído de forma contínua e partilhada com a sociedade civil, forças produtivas locais, instituições de ensino e agentes públicos.
A resultante desse esforço deverá representar um conjunto de ideias – força e projetos estratégicos que possam nos conduzir com segurança, para uma nova era, na qual a velocidade de propagação do conhecimento e os avanços tecnológicos nos deixam perplexos.
Esse novo mundo, que chega rápido, requererá também o exame de práticas mais participativas e transparentes no que se refere à gestão pública e privada. Maximizar os impactos positivos das ações públicas será obrigação. Ao mesmo tempo, temos que nos libertar da visão menor de que somos um Estado pobre e, há décadas, limitado a uma participação ínfima (2%) no PIB nacional.
Em síntese, a pretensão da Plataforma Estratégica Ceará 2050 é identificar pontos fortes por meio de um esforço coletivo, participativo e verdadeiro e estabelecer um modelo de governança capaz de nos conduzir para a meta desejável de um desenvolvimento com real sustentabilidade econômica, social e ambiental.
Durante 15 meses, buscaremos identificar caminhos, soluções alternativas e possibilidades de ações e iniciativas capazes de abrir, para todos os cearenses, perspectivas de desenvolvimento e bem-estar, na busca de crescimento com distribuição de renda. Os possíveis cenários serão, em seguida, submetidos ao debate junto aos cearenses, até chegarmos, em conjunto, às escolhas definitivas, para enfrentarmos os desafios que virão.
As sociedades vencedoras são aquelas que sempre trabalharam o momento presente na busca de identificar o melhor caminho para o futuro desejado. 2050 chegará mais rápido do que imaginamos. Temos consciência de que as decisões que tomarmos hoje moldarão o nosso amanhã.
Barros Neto
ceara2050@gabgov.ce.gov.br
Professor titular da UFC; presidente da Fundação Astef; coordenador do Ceará 2050